Todos
os dias eu engulo as palavras que tenho para te dizer. Uma por uma elas vão
sufocando o que eu sinto, tentando sempre em vão, colocar um ponto final nisso
tudo.
A
vida brinca comigo nos momentos mais impróprios. Os momentos em que estou bem,
em que estou plena e certa das coisas. Nesses momentos você volta. Volta para
me assombrar nos meus piores pesadelos, meus melhores sonhos. Volta a me
assombrar nas ruas.
Surpreendo-me
te procurando em cada lugar ao qual eu vou, te vendo no rosto de cada pessoa. E me pergunto de onde é que tudo isso veio. E porque, Deus, por que eu sinto
essa confusão dentro de mim?
Corro
por um labirinto complicado demais para mim. Procuro a saída, mas acabo sempre
esbarrando em você, que me puxa ainda mais para o interior dessas paredes
vazias. Depois que me vê perdida o suficiente, me deixa. Solta a minha mão e me
diz que é hora de percorrer o caminho sozinha.
Tenho
saudade de momentos que não vivi. De histórias que não escrevemos juntos, mas
que eu, na minha agonia de sentir você perto de mim, escrevi sozinha. Os rascunhos de algo tão bonito que talvez,
só por um período, pudéssemos ter vivido.
Será
que eu devo rasgar esses rascunhos? Colocar você num cantinho dentro de mim do
qual eu nem vá me lembrar mais? E será que você ficaria lá, quieto, como parte
das minhas memórias?
Ou
será que eu devo escrever a história a partir dos meus rascunhos? Deixar as
palavras saírem, ganharem vida, surgirem diante dos seus olhos. Fazer com que
você as leia e saiba o que eu sinto. Mesmo que seja um esboço.
Talvez
eu devesse queimar esses rascunhos. Deixá-los virarem uma pequena fagulha de
luz para iluminar o meu caminho no labirinto. Em alguma vida eu sei que é você
que vai estar na saída.